PATRÍCIA BRITTO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
De malas prontas para viajar ao Vaticano, o cardeal dom Cláudio Hummes,
78, arcebispo emérito de São Paulo, disse que dificilmente o papa que
substituirá Bento 16 mudará a forma como a igreja lida com temas
considerados polêmicos, como o uso de métodos contraceptivos, a união
civil entre homossexuais e as pesquisas com células-tronco.
"Acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto
pela sociedade ou pelos legisladores", disse em entrevista à Folha.
Rivaldo Gomes - 12.out.12/Folhapress |
Dom Cláudio Hummes celebra missa em Aparecida (SP) |
Ele defendeu, porém, o diálogo sobre os desafios contemporâneos nos
campos da ciência, da medicina e da biologia, e disse que a igreja deve
interpretar o Evangelho de acordo com as "situações diferenciadas da
história".
D. Cláudio, que também é prefeito emérito da Congregação para o Clero,
no Vaticano, é um dos cinco brasileiros que participarão do conclave
para eleger o próximo papa e que também poderão ser escolhidos como
substituto de Bento 16.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida por d. Cláudio Hummes à Folha.
Folha - Como o próximo papa pode evitar a perda de fiéis em países como o Brasil, maior nação católica do mundo?
D. Cláudio Hummes - Quando o papa Bento 16 esteve aqui, foram traçadas
muitas propostas nesse sentido. Depois ele insistiu muito na nova
evangelização e em que a igreja deve estar muito perto do povo,
sobretudo dos mais pobres. Penso que o novo papa continuará também nessa
mesma linha, que aliás está sendo seguida aqui no Brasil.
Como funciona na prática?
Ir até o povo e não apenas esperar e atender aquelas pessoas que vêm à
nossa paróquia, que vêm nos procurar. Nós é quem devemos
organizadamente, de forma preparada, ir ao encontro do povo, visitar o
povo, evangelizar o povo. Não numa forma de conflito com as igrejas
evangélicas, mas fazendo o nosso trabalho com aqueles que nós batizamos.
O próximo papa poderá mudar a forma de lidar com temas como as pesquisas com células-tronco ou a união civil entre homossexuais?
A igreja não pode mudar o Evangelho que recebeu de Jesus Cristo. Ela
deve procurar interpretá-lo e pôr em prática nas situações diferenciadas
da história. Sabemos que hoje existem muitos desafios novos nos campos
da ciência, da medicina, da biologia. São campos sobre os quais a gente
tem que dialogar.
Mas acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores hoje em dia.
Mas acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores hoje em dia.
O senhor participará do conclave para eleger o próximo papa e poderá
inclusive ser votado. Acredita ter muitas chances de ser escolhido?
Eu não acredito. Independente disso, eu espero que [o papa eleito] seja
um homem mais novo. Nós tivemos um papa muito jovem, João Paulo 2º, que
foi eleito com 58 anos, e depois um papa muito idoso, o Bento 16, eleito
com 78 anos. Espero agora que encontremos a média.
Qual seria a idade ideal?
Lá pelos 65 seria uma boa idade, mas isso é um critério menor, não é o
prioritário. O importante é que o papa que seja eleito seja um homem de
Deus, um homem de fé. Existem bons candidatos.
O senhor acredita que, a partir de agora, a renúncia de papas poderá ser mais frequente?
Acho que será mais fácil para eles tomarem eventualmente tal decisão.
Era difícil uma primeira vez depois de quase 600 anos. A gente entende
como deve ter sido difícil. Mas já que este papa é muito racional e ao
mesmo tempo um santo homem, ele conseguiu tomar essa decisão. Isso de
fato abre portas.
Qual será a importância da visita do próximo papa ao Brasil, prevista para julho?
Em primeiro lugar, a própria visita e o encontro com os jovens. Depois o
fato de ser um papa recente, e certamente será uma das primeiras
viagens, se não a primeira viagem internacional que ele fará, então
tanto mais importante. E nós ficaremos muito felizes de tê-lo aqui,
porque o Brasil é muito importante.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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