Rosemberg Cariry
O cineasta tem quase 40 anos de audiovisual, somando 12 longas, entre documentários e trabalhos de ficção
O Cego Aderaldo ganhou destaque em uma das mais recentes produções de Rosemberg
Além da carreira como diretor, que iniciou de forma amadora em meados dos anos 70, o cineasta cearense tem uma prolífica produção literária: a região Nordeste e todo os seus personagens como frequente fonte de inspiração
Dos primeiros e amadores curtas-metragens documentais em meados da década de 1970 aos recentes longas da segunda década do século XXI, "Folia de Reis" e "Pobres Diabos", as lentes de Antônio Rosemberg de Moura invariavelmente estiveram voltadas para o sertão. Natural de Farias Brito, município com menos de 20 mil habitantes no Cariri cearense, ele adotou para si o batismo da região e com ele tradições seculares de manifestações artísticas, personagens, paisagens e uma maneira peculiar de olhar e narrar suas histórias.
Ex-seminarista, filósofo por formação e pesquisador do imaginário popular nordestino, Rosemberg Cariry fez do Nordeste a matriz de suas produções, extraindo e processando em seus filmes a universalidade em meio ao particular, estabelecendo pontes entre as diferenças. Gravou o seu primeiro documentário amador em 1975 e já no final da mesma década dava início a sua produção profissional. O primeiro longa-metragem, o documentário "A Irmandade da Santa Cruz do Deserto", foi rodado em 1986.
Em 1993, produziu o primeiro longa de ficção, "A Saga do Guerreiro Alumioso", farsa burlesca que trazia como protagonista o aposentado Genésio, viúvo, sem filhos e obsessivo pelo cangaço que vaga pela cidade de Aroeiras em meio a disputa pela terra entre camponeses e latifundiários. O filme contou com o apoio do Cinequanon de Lisboa e do Instituto Português de Arte Cinematográfica (IPACA) e correu o circuito internacional de festivais, exibido em países como França, Bélgica, Portugal, Itália, Cuba, Estados Unidos, Colômbia e Uruguai.
Obra prima
Em 1995, o cineasta realizou seu terceiro longa-metragem, "Corisco e Dadá", assinando roteiro e direção. O filme foi um sucesso de crítica, fazendo parte do chamado "Renascimento do Cinema Brasileiro" e ganhando lançamento comercial no ano seguinte em diversas cidades do País. No elenco, estavam Chico Díaz, que encarnava o cangaceiro Corisco e a paraense Dira Paes, interpretando Dadá.
Considerado até hoje uma das melhores obras sobre o cangaço, o filme narra a história do cangaceiro, também conhecido como "Diabo Loiro", famoso por sua violência e crueldade. A esposa, Dadá, seria raptada e violentada por ele aos 12 anos de idade. Do crime, ele recebe a condenação de Deus e a missão de lavar com sangue os pecados do mundo.
A obra recebeu prêmio de melhor edição no Festival de Havana, onde foi indicada também ao Grand Coral, melhor ator, para Chico Díaz, em Gramado, indicado também como melhor filme e melhor atriz, para Dira Paes no Festival de Brasília.
Produções
A partir do ano de 1999, Rosemberg realizou filmes de média-metragem como "A TV e o Ser-Tao" e "Pedro Oliveira - O Cego que viu o Mar", este último recebendo o Prêmio GNT de Renovação de Linguagem. Também em 1999, dirigiu o documentário de longa-metragem "Juazeiro - A Nova Jerusalém", filme que contou com seu filho, Petrus Cariry, entre os produtores, onde Rosemberg retrata a miséria do sertanejo de Juazeiro do Norte, além da religiosidade e cultura que lá resistem.
Em 2002, Rosemberg repete a fórmula de "Corisco e Dadá" com "Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio", filme também estrelado por Chico Díaz e Dira Paes, que interpreta Lua, negra, filha de escrava estuprada por um coronel, que, em meio uma sociedade machista do século XIX se vê obrigada a renegar sua feminilidade para lutar com as mesmas armas dos homens no intuito de conquistar respeito.
Um cego, uma índia e um português são os personagens centrais de "Cine Tapuia", misto de documentário e ficção lançado em 2006. Além de prestar uma homenagem ao próprio cinema, ambientando a história com um cinema mambembe que percorre pequenas comunidades exibindo cenas de filmes de Glauber Rocha, Lev Kuleshov e Sergei Eisenstein, o filme traz uma atualização do mito de Iracema (Myrlla Muniz), filha do cego Araquém (Rodger Rogério), que tem sua vida mudada após conhecer o português Martim (Luiz Carlos Salatiel).
No ano seguinte, Rosemberg lança "Patativa do Assaré - Ave Poesia", cinebiografia documental do poeta que situa historicamente sua obra, intercalando a cronologia de sua vida a depoimentos e análises críticas da sua obra, e referências acontecimentos políticos e culturais do País. Em 2008, o diretor lança "Siri-Ará" - obra em que faz um mergulho épico na construção mítica Ceará - e que recebeu prêmios de Melhor Ator Coadjuvante, para Everaldo Pontes, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante para o conjunto de seu elenco feminino.
O lançamento mais recente, em 2011, foi o filme "Cego Aderaldo - O Cantador e o Mito", documentário produzido em coprodução com a TV Brasil, que resgata a real e desconhecida história do cego que, paradoxalmente, é um dos personagens mais lembrados do imaginário nordestino. Os dois últimos longas-metragens que levam a assinatura de Rosemberg Cariry já estão filmados, mas ainda encontram-se em fase de finalização: "Folia de Reis" (2012) e "Os Pobres Diabos" (2013).
Literatura
Paralelamente a sua produção cinematográfica, e tão antiga quanto, Rosemberg Cariry atua ainda como escritor, tendo publicado sete livros de 1975 para cá.
O cineasta estreou na literatura com a coleção de poemas "Despretencionismo" (1975), escrito em parceria com Geraldo Urano. Em 1981, outra seleção de poemas são publicados sob o título de "Semeadouro". Entre seus livros de poemas, estão ainda "S de Seca - SS" (1983); "Inãron ou na Ponta da Língua eu trago trezentos mil desaforos " (1985).
Rosemberg Cariry também lançou o coletânea de artigos e reportagens "Cultura Insubmissa", em parceria com o antropólogo cearense Oswald Barroso (1982), o livro de contos "A Lenda das Estrelinhas Magras" (1984) e "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto - Anotações para a história" (2008), escrito em parceria com o também cineasta Firmino Holanda. (FM)
Fonte: CADERNO 3
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