Mulungu reúne apaixonados pelo esporte, numa tradição que a cada ano ganha mais adeptos
Com homenagem às bandeiras, os cavaleiros partem de Canindé e seguem até Mulungu, durante evento que já está em sua oitava edição. Passeio fortalece cultura regional fotos: Antônio Carlos Alves
Canindé. A cavalgada é uma prática milenar, que surgiu na África e na Europa durante a domesticação dos cavalos. Nas últimas décadas, volta a dominar o cotidiano dos criadores desse animais, como uma forma de confraternizar os apaixonados por equinos. Em muitas cidades, como Mulungu, os tradicionais passeios coletivos de cavaleiros já fazem parte do calendário de eventos socioculturais.
Aventura, fé, devoção, coragem, respeito e amizade formam a mistura dessa modalidade esportiva e de lazer que renasce nos sertões do Ceará, reunindo praticantes de diferentes gerações. A cavalgada vem ganhando espaço em todos os seguimentos da sociedade civil, resgatando a cultura popular da região.
Para o empresário Calixto Fraga, que organiza a Cavalgada da Fé de Canindé a Mulungu, a modalidade envolve variados participantes. "Estamos no 8º ano de viagem e a cada aventura aumenta o número de participantes. Vamos manter viva essa tradição. Não podemos deixar que a prática acabe´´, defende ele.
História
Só a partir das últimas décadas a cavalgada começou a fazer parte da cultura brasileira com vários objetivos: cívico, religioso, esportivo, ecológico ou simplesmente ocasião para o contato com do homem com a natureza.
"Geralmente, o passeio é realizado por grupos de homens, mulheres, jovens e crianças que percorrem trilhas, estradas, campos, fazendas, riachos e plantações. É uma atividade alegre, descontraída e ocasião para a contemplação da fauna e flora local´´, diz.
"Foi uma promessa que fiz. Na primeira edição, começamos com 35 vaqueiros. Hoje já estamos com esse número, superior a mil amigos. É uma prova de que nossa ideia foi bem aceita. Graças a Deus, estamos mantendo uma tradição milenar´´, comemora Calixto Fraga, que cavalgou durante 12 horas até a comunidade do Sítio Couros, em Mulungu, onde os animais tiveram o descanso para depois chegar à cidade. No Centro de Eventos, eles foram abençoados pelo pároco da Paróquia de São Sebastião Padre Paulo Freitas.
Obstáculos
"O percurso às vezes é repleto de obstáculos como travessia de córregos, troncos, brejo, mato´´, lembrou o vaqueiro.
No Ceará, muitos municípios já estão organizando o evento por ocasião das comemorações municipais, como festas religiosas, eventos agropecuários ou passeios ecológicos.
A reportagem acompanhou uma noite de viagem de um grupo de mais de mil aventureiros com destino à cidade de Mulungu, no Maciço do Baturité, para conhecer de perto a saga de uma categoria que se reúne para fazer o bem e até praticar atos de solidariedade. Manuel Lacerda foi um dos integrantes da viagem. "Na primeira vez, vim em um cavalo emprestado. Gostei do esporte e hoje tenho um haras na cidade de Caucaia. Enquanto vida eu tiver, não deixo de viajar nesse grupo´´, disse.
Outro que participa ativamente das cavalgadas é o empresário João Paulo, do Rancho Sossego. Todos os anos, ele leva em média 20 vaqueiros que passam a noite em sintonia com a natureza. "É uma coisa gratificante. Não podemos deixar que isso acabe, porque tudo passa de geração a geração", disse.
Quem acompanha o percurso fica encantado com a maneira como os cavalheiros tratam os animais. Em muitos locais de difícil acesso, o homem desce e ajuda o cavalo a ultrapassar os obstáculos até o destino final.
O empresário Edson dos Estofados, dona de uma equipe de Vaquejada em Canindé, também participa da festa. "Estou muito feliz, porque entendo que nossa categoria precisa estar mais unida. A cavalgada é um esporte do bem´´, salientou.
Luiz Madeira, do Parque Guajurá, aproveita a viagem para aboiar e tornar o trajeto mais alegre. "Todo cidadão é vaqueiro e todo vaqueiro é sertanejo. Aqui todo mundo faz parte de uma família, por isso é só alegria´´, frisa.
"As gerações se misturam e, quando isto acontece, quem sai fortalecida é a cultura popular. Na nossa região é preciso as pessoas reconhecerem o quanto é importante valorizar e respeitar as ideias e costumes de cada um´´, disse Luiz Madeira.
Francisco José Freitas, do Sítio Caridade do Jesuíno, lembra que as cavalgadas fazem parte de uma tradição antiga. "É o grande momento em que homem e cavalo falam a mesma língua e a sintonia se torna perfeita. É como se você estivesse tocando um instrumento e fosse necessário um grupo para acompanhá-lo´´, compara o vaqueiro Neném, como é conhecido.
A presença do vaqueiro é, sem dúvida, um grande avanço nas cavalgadas. Para o presidente da Associação dos Vaqueiros, Boiadeiros e Criadores dos Sertões de Canindé, José Curdulino Filho, que participa ativamente dos momentos de interação dos vaqueiros, as cavalgadas voltaram e deram um novo charme às festas que acontecem no Ceará.
Dedicação
O prefeito de Mulungu, Francisco Sávio Bezerra, é exemplo de dedicação e paixão. Ele diz que mesmo antes de ser prefeito já era vaqueiro.
"Prefeito é um compromisso firmado com o povo, para servir bem a sua gente. Vaqueiro não. É uma profissão para a vida inteira´´, compara Sávio.
"Só deixo esse meio quando o criador do Universo pedir a minha presença lá em cima. Quando não, vou continuar aqui levando essa vida que muito me orgulha´´, disse o prefeito, em tom emocionado pela atividade.
Com homenagem às bandeiras, os cavaleiros partem de Canindé e seguem até Mulungu, durante evento que já está em sua oitava edição. Passeio fortalece cultura regional fotos: Antônio Carlos Alves
Canindé. A cavalgada é uma prática milenar, que surgiu na África e na Europa durante a domesticação dos cavalos. Nas últimas décadas, volta a dominar o cotidiano dos criadores desse animais, como uma forma de confraternizar os apaixonados por equinos. Em muitas cidades, como Mulungu, os tradicionais passeios coletivos de cavaleiros já fazem parte do calendário de eventos socioculturais.
Aventura, fé, devoção, coragem, respeito e amizade formam a mistura dessa modalidade esportiva e de lazer que renasce nos sertões do Ceará, reunindo praticantes de diferentes gerações. A cavalgada vem ganhando espaço em todos os seguimentos da sociedade civil, resgatando a cultura popular da região.
Para o empresário Calixto Fraga, que organiza a Cavalgada da Fé de Canindé a Mulungu, a modalidade envolve variados participantes. "Estamos no 8º ano de viagem e a cada aventura aumenta o número de participantes. Vamos manter viva essa tradição. Não podemos deixar que a prática acabe´´, defende ele.
História
Só a partir das últimas décadas a cavalgada começou a fazer parte da cultura brasileira com vários objetivos: cívico, religioso, esportivo, ecológico ou simplesmente ocasião para o contato com do homem com a natureza.
"Geralmente, o passeio é realizado por grupos de homens, mulheres, jovens e crianças que percorrem trilhas, estradas, campos, fazendas, riachos e plantações. É uma atividade alegre, descontraída e ocasião para a contemplação da fauna e flora local´´, diz.
"Foi uma promessa que fiz. Na primeira edição, começamos com 35 vaqueiros. Hoje já estamos com esse número, superior a mil amigos. É uma prova de que nossa ideia foi bem aceita. Graças a Deus, estamos mantendo uma tradição milenar´´, comemora Calixto Fraga, que cavalgou durante 12 horas até a comunidade do Sítio Couros, em Mulungu, onde os animais tiveram o descanso para depois chegar à cidade. No Centro de Eventos, eles foram abençoados pelo pároco da Paróquia de São Sebastião Padre Paulo Freitas.
Obstáculos
"O percurso às vezes é repleto de obstáculos como travessia de córregos, troncos, brejo, mato´´, lembrou o vaqueiro.
No Ceará, muitos municípios já estão organizando o evento por ocasião das comemorações municipais, como festas religiosas, eventos agropecuários ou passeios ecológicos.
A reportagem acompanhou uma noite de viagem de um grupo de mais de mil aventureiros com destino à cidade de Mulungu, no Maciço do Baturité, para conhecer de perto a saga de uma categoria que se reúne para fazer o bem e até praticar atos de solidariedade. Manuel Lacerda foi um dos integrantes da viagem. "Na primeira vez, vim em um cavalo emprestado. Gostei do esporte e hoje tenho um haras na cidade de Caucaia. Enquanto vida eu tiver, não deixo de viajar nesse grupo´´, disse.
Outro que participa ativamente das cavalgadas é o empresário João Paulo, do Rancho Sossego. Todos os anos, ele leva em média 20 vaqueiros que passam a noite em sintonia com a natureza. "É uma coisa gratificante. Não podemos deixar que isso acabe, porque tudo passa de geração a geração", disse.
Quem acompanha o percurso fica encantado com a maneira como os cavalheiros tratam os animais. Em muitos locais de difícil acesso, o homem desce e ajuda o cavalo a ultrapassar os obstáculos até o destino final.
O empresário Edson dos Estofados, dona de uma equipe de Vaquejada em Canindé, também participa da festa. "Estou muito feliz, porque entendo que nossa categoria precisa estar mais unida. A cavalgada é um esporte do bem´´, salientou.
Luiz Madeira, do Parque Guajurá, aproveita a viagem para aboiar e tornar o trajeto mais alegre. "Todo cidadão é vaqueiro e todo vaqueiro é sertanejo. Aqui todo mundo faz parte de uma família, por isso é só alegria´´, frisa.
"As gerações se misturam e, quando isto acontece, quem sai fortalecida é a cultura popular. Na nossa região é preciso as pessoas reconhecerem o quanto é importante valorizar e respeitar as ideias e costumes de cada um´´, disse Luiz Madeira.
Francisco José Freitas, do Sítio Caridade do Jesuíno, lembra que as cavalgadas fazem parte de uma tradição antiga. "É o grande momento em que homem e cavalo falam a mesma língua e a sintonia se torna perfeita. É como se você estivesse tocando um instrumento e fosse necessário um grupo para acompanhá-lo´´, compara o vaqueiro Neném, como é conhecido.
A presença do vaqueiro é, sem dúvida, um grande avanço nas cavalgadas. Para o presidente da Associação dos Vaqueiros, Boiadeiros e Criadores dos Sertões de Canindé, José Curdulino Filho, que participa ativamente dos momentos de interação dos vaqueiros, as cavalgadas voltaram e deram um novo charme às festas que acontecem no Ceará.
Dedicação
O prefeito de Mulungu, Francisco Sávio Bezerra, é exemplo de dedicação e paixão. Ele diz que mesmo antes de ser prefeito já era vaqueiro.
"Prefeito é um compromisso firmado com o povo, para servir bem a sua gente. Vaqueiro não. É uma profissão para a vida inteira´´, compara Sávio.
"Só deixo esse meio quando o criador do Universo pedir a minha presença lá em cima. Quando não, vou continuar aqui levando essa vida que muito me orgulha´´, disse o prefeito, em tom emocionado pela atividade.
Amor a cavalos passa de pai para filho
Empresário Calixto Fraga, filha Ane Caroline e esposa Ana Maria. A prática da montaria já é comum no cotidiano da família, que serve de exemplo para os amigos e demais participantes do lazer coletivo nos Sertões de Canindé
Mulungu. Quando iniciou a primeira cavalgada com destino a cidade de Mulungu, em 2006, o empresário Calixto Fraga contou apenas com o apoio da esposa Ana Maria.
No início era tudo muito acanhado. A dificuldade para conseguir simpatizantes era difícil, mas com o passar do tempo o vaqueiro viu que seu projeto já estava no caminho certo.
"Em 2007, o número de aventureiros aumentou e aí, comecei a pensar grande. Juntei os amigos de Canindé e começamos a organizar a cavalgada de forma mais profissional. Graças a Deus o sucesso é isso que todo mundo está vendo´´, comemora.
Calixo sempre fala em tom de paixão. "Em 2007 a minha filha fez a sua primeira viagem na barriga de sua mãe, porque ela é a mão amiga que me ajuda a organizar tudo. Depois do seu nascimento ela continuou acompanhando o grupo´´, lembrou.
Hoje com 6 anos, Ane Caroline faz parte do parte do percurso de carro ao lado de sua mãe e quando está chegando à cidade, ela desce e monta em seu fiel escudeiro um pônei de cor branca que já está acostumado com sua presença.
Amazona
Vestida à caráter, com roupa de amazonas, Ane Caroline não esconde a paixão pela cavalgada. Segundo o pai, ela tem um carinho muito grande pelo animal. "Comprei esse cavalinho para que ela possa dar sequência a nossa tradição. É como diz o ditado, é uma tradição de pai, mãe e filha´´, brinca o empresário.
Crianças como Ane Caroline, se juntam a outras que viagem com um só objetivo: participar da festa.
Exemplos para os empresários Edson dos Estofados que leva o filho menor. Um detalhe, é que todos já montam em cavalos e sabem o que lhe esperam no futuro: seguir os passos dos pais e garantir viva a tradição de unir, cavalo, homem, mulher e crianças, com um só sentimento: não deixar que a cultura popular perca sua essência.
Diferencial
Na opinião de Elson Gaspari, professor de História que estuda a cultura popular nos Sertões de Canindé, essa integração entre as Associações de Vaqueiros dos Municípios do Ceará tem um grande diferencial.
Ele avalia que a cada movimento religioso, cultural ou de aventura que reúne essas classes, a cultura popular renasce. "É como se, a cada dia, colocasse água numa planta. Agindo assim, ela jamais irá morrer. É a mesma coisa da categoria de vaqueiros. Todos os dias eles estão integrados num só pensamento. Manter acesa a chama da cultura´´, explicou o historiador.
Quanto à presença das crianças na viagem, ele diz que tudo faz parte do imaginário popular. "Os pais herdaram dos avôs dos meninos e agora querem que eles sigam o mesmo caminho, como é comum na nossa cultura", finalizou Gaspari.
Empresário Calixto Fraga, filha Ane Caroline e esposa Ana Maria. A prática da montaria já é comum no cotidiano da família, que serve de exemplo para os amigos e demais participantes do lazer coletivo nos Sertões de Canindé
Mulungu. Quando iniciou a primeira cavalgada com destino a cidade de Mulungu, em 2006, o empresário Calixto Fraga contou apenas com o apoio da esposa Ana Maria.
No início era tudo muito acanhado. A dificuldade para conseguir simpatizantes era difícil, mas com o passar do tempo o vaqueiro viu que seu projeto já estava no caminho certo.
"Em 2007, o número de aventureiros aumentou e aí, comecei a pensar grande. Juntei os amigos de Canindé e começamos a organizar a cavalgada de forma mais profissional. Graças a Deus o sucesso é isso que todo mundo está vendo´´, comemora.
Calixo sempre fala em tom de paixão. "Em 2007 a minha filha fez a sua primeira viagem na barriga de sua mãe, porque ela é a mão amiga que me ajuda a organizar tudo. Depois do seu nascimento ela continuou acompanhando o grupo´´, lembrou.
Hoje com 6 anos, Ane Caroline faz parte do parte do percurso de carro ao lado de sua mãe e quando está chegando à cidade, ela desce e monta em seu fiel escudeiro um pônei de cor branca que já está acostumado com sua presença.
Amazona
Vestida à caráter, com roupa de amazonas, Ane Caroline não esconde a paixão pela cavalgada. Segundo o pai, ela tem um carinho muito grande pelo animal. "Comprei esse cavalinho para que ela possa dar sequência a nossa tradição. É como diz o ditado, é uma tradição de pai, mãe e filha´´, brinca o empresário.
Crianças como Ane Caroline, se juntam a outras que viagem com um só objetivo: participar da festa.
Exemplos para os empresários Edson dos Estofados que leva o filho menor. Um detalhe, é que todos já montam em cavalos e sabem o que lhe esperam no futuro: seguir os passos dos pais e garantir viva a tradição de unir, cavalo, homem, mulher e crianças, com um só sentimento: não deixar que a cultura popular perca sua essência.
Diferencial
Na opinião de Elson Gaspari, professor de História que estuda a cultura popular nos Sertões de Canindé, essa integração entre as Associações de Vaqueiros dos Municípios do Ceará tem um grande diferencial.
Ele avalia que a cada movimento religioso, cultural ou de aventura que reúne essas classes, a cultura popular renasce. "É como se, a cada dia, colocasse água numa planta. Agindo assim, ela jamais irá morrer. É a mesma coisa da categoria de vaqueiros. Todos os dias eles estão integrados num só pensamento. Manter acesa a chama da cultura´´, explicou o historiador.
Quanto à presença das crianças na viagem, ele diz que tudo faz parte do imaginário popular. "Os pais herdaram dos avôs dos meninos e agora querem que eles sigam o mesmo caminho, como é comum na nossa cultura", finalizou Gaspari.
ANTÔNIO CARLOS ALVESCOLABORADOR
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