quarta-feira, 23 de junho de 2010

ONG História Viva participa da Mostra Nacional de Vídeo Índio Brasil 2010.

O Vídeo Índio Brasil (VIB) é composto de curtas, médias e longas-metragens sobre índios e realizados por índios. O projeto proporciona que cidades brasileiras tenham a oportunidade de acesso à diversidade cultural indígena existente no país, revelada por meio de produções audiovisuais realizadas por indígenas e não indígenas.

Em edições anteriores, o Vídeo Índio Brasil mostrou que o recurso audiovisual constitui-se de um instrumento cada vez mais importante no registro, afirmação e promoção de aspectos culturais das mais diversas populações tradicionais existentes no mundo. O projeto inicial contou com o apoio do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID/MinC). O Festival contou, também, com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Ministério do Turismo.

O projeto consiste na exibição simultânea em 100 (cem) cidades brasileiras inscritas e criteriosamente selecionadas. A programação do Vídeo Índio Brasil será exibida nos dias 31 de julho a 07 de agosto de 2010, com a projeção dos vídeos e filmes, oficinas, seminário, apresentações, exposições e debates. Todas as atividades terão entrada franca e sem fins lucrativos.

Essa iniciativa possibilita um melhor conhecimento dos patrimônios culturais indígenas, além de contribuir para o dialogo intercultural entre indígenas e a sociedade ocidental.

As exibições serão realizadas na sede da ONG História Viva:

Espaço Cultural História Viva – Rua Cícero Justino, S/N - Batalhão – Independência /CE.

Horário: 18:30 h.

www.videoindiobrasil.org.br




sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morre, aos 87 anos, o escritor português José Saramago


O escritor português José Saramago morreu aos 87 anos em sua casa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, nesta sexta-feira (18). A informação foi divulgada pela família do escritor de "Ensaio sobre a cegueira" e confirmada em seu site oficial.

Segundo sua mulher, a jornalista Pilar del Río, Saramago passou mal após tomar o café da manhã e recebeu auxílio médico, mas não resistiu e morreu. Ele sofria de leucemia e, nos últimos anos, havia sido hospitalizado em várias oportunidades devido a problemas respiratórios.

"Hoje, sexta-feira, 18 de junho, José Saramago faleceu às 12h30 horas [horário local] na sua residência de Lanzarote, aos 87 anos de idade, em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila", diz uma nota assinada pela Fundação José Saramago e publicada na página do escritor na internet.

De acordo com a agência de notícias EFE, os restos mortais de Saramago serão levados a um cemitério de Lisboa em data ainda não especificada. Um serviço fúnebre deve ser realizado ainda nesta sexta, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.

O autor de "O evangelho segundo Jesus Cristo" e "Ensaio sobre a cegueira" vivia em Lanzarote, no arquipélago espanhol desde 1993 com sua esposa.

Expoente da literatura mundial

O escritor português era um dos maiores nomes da literatura contemporânea, vencedor do prêmio Nobel de Literatura no ano de 1998 e de um prêmio Camões - a mais importante condecoração da língua portuguesa.

Entre seus livros mais conhecidos estão "Memorial do convento", "O ano da morte de Ricardo Reis", "O evangelho segundo Jesus Cristo", "A jangada de pedra" e "A viagem do elefante". O mais recente romance publicado pelo escritor foi "Caim", de 2009. Seu estilo de escrita era caracterizado pelos parágrafos muito longos e escassez de pontuações.

"Ensaio sobre a cegueira", que conta a história de uma epidemia branca que cega as pessoas, metáfora da cegueira social, foi levado às telas em um produção hollywoodiana filmada pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles (de "Cidade de Deus") em 2008. O autor, normalmente avesso a adaptações de suas obras, aprovou o trabalho de Meirelles.

Saramago era considerado como o criador de um dos universos literários mais pessoais e sólidos do século XX e uniu a atividade de escritor com a de homem crítico da sociedade, denunciando injustiças e se pronunciando sobre conflitos políticos de sua época. Em 1997, escreveu a introdução para o livro de fotos "Terra", em que o fotógrafo Sebastião Salgado retratava a rotina do movimento dos sem-terra no Brasil.

No mesmo ano, uma exposição sobre o trabalho de Saramago foi exibida no Brasil. "José Saramago: a consistência dos sonhos" trazia cerca de 500 documentos originais e outros tantos digitalizados, reunidos em um formato que, misturando o tradicional e a tecnologia moderna, levavam o visitante a uma agradável e rara viagem pela vida e pela obra do escritor português.

Biografia

O português José de Sousa nasceu em 16 de novembro de 1922, na pequena aldeia portuguesa de Azinhaga, no Ribatejo, região central do país. Ficou mais conhecido, no entanto, pelo sobrenome de sua família paterna, Saramago, que o funcionário do Registro Civil acrescentou após seu nascimento.

Sua família mudou-se para Lisboa quando José tinha dois anos. Aluno brilhante, ele teve de abandonar o ensino secundário aos 12 anos, por causa da falta de recursos de seus pais.

Ateu, cético e pessimista, Saramago sempre teve atuação política marcante e levantava a voz contra as injustiças, a religião constituída e grandes poderes econômicos, que ele via como grandes doenças de seu tempo.

"Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário", disse em dezembro de 2008, durante apresentação em Madri de "As pequenas memórias", obra em que recorda sua infância entre os 5 e 14 anos.

Filiado ao Partido Comunista português


Autodescrito como um "comunista libertário", ele também provocou polêmica ao chamar a Bíblia de "manual de maus costumes". Ao longo de seis décadas de carreira literária, publicou cerca de 30 obras, entre romances, poesia, ensaios, memórias e teatro.

Saramago publicou seu primeiro romance, "Terra do pecado", em 1947. Em 1969, sob a ditadura salazarista, ele filiou-se ao Partido Comunista português. Depois de 47, ele ficou quase 20 anos sem publicar, argumentando que "não tinha nada a dizer". Na época, teve empregos públicos e trabalhou como editor e jornalista.

Entre 1966 e 1975, publicou poesia: "Os poemas possíveis", "Provavelmente alegria" e "O ano de 1993". Em 1977, publicou o romance "Manual de pintura e caligrafia". Depois, vieram os contos de "Objeto quase" (1978) e a peça "A noite" (1979).

Mas o reconhecimento mundial só chegou com "Memorial do convento", de 1982, a que se seguiu "O ano da morte de Ricardo Reis", dois anos depois. Os dois romances receberam o prêmio do PEN Clube Português.

Nobel e Camões ao desafeto da Igreja


Seu romance "O evangelho segundo Jesus Cristo", de 1991, provocou polêmica com a Igreja Católica e foi proibido em Portugal em 1992.

O romance mostrava um Jesus humano, com dúvidas, fraquezas e conversando com um Deus cruel. Em um dos episódios, Jesus perdia sua virgindade com Maria Madalena.

Um ano depois disso, ele decidiu se mudar para a ilha de Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias, onde ficou até morrer, sempre acompanhado pela sua segunda mulher, a jornalista e tradutora espanhola Pilar del Río.

Em 1995, ganhou o Prêmio Camões pelo conjunto da obra e publicou "Ensaio sobre a cegueira".

Em 1998, ele recebeu o Nobel de Literatura. Na justificativa da premiação, a academia afirmou que o português criou uma obra em que, "mediante parábolas sustentadas com imaginação, compaixão e ironia, nos permite captar uma realidade fugitiva".

Seu último romance foi "Caim", de 2009, também bastante criticado pela Igreja Católica por conta de sua visão pouco ortodoxa do Velho Testamento.



Reportagem retirada no portal G1

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um homem de várias facetas - publicado no Jornal O Povo -

Foto: O Povo

Um homem de várias facetas. Isso se pode falar, sem medo de errar, de Rogerlando Gomes Cavalcante. Todas elas voltadas para a produção artística e, além dela, para a ironia crítica, tão característica de sua personalidade e que destila em tudo que faz. Com efeito, é na charge, no cordel e na combinação criada por ele dos dois (convenientemente denominada charge/cordel) que Rogerlando acentua mais o espírito de confrontação. Mas também há espaço para o desenho, para o ensaio, para a música e até para as histórias em quadrinhos nessa salada. Não por acaso, ele é um dos compositores do hino de sua cidade, Independência, localizada no Vale de Crateús, a 310 quilômetros de Fortaleza.

Na poesia, como ele mesmo diz, esse espírito ferino também está presente, ``mesmo que não de forma explícita``. No primeiro livro do multiartista, intitulado Chão Inaugural, pode-se verificar facilmente essa afirmativa. Com lançamento marcado para a noite de hoje, no Centro Cultural Oboé, a obra traz Rogerlando por tudo que ele é e dá um tom universal e perene àquilo que é sentimento particular e preso no tempo. É, inclusive, da noção de temporalidade que ele extrai um de seus eixos temáticos. ``Estou interessado nas coisas mais permanentes``, explica. ``Dante (Alighieri), Camões e Drummond & cada poeta tenta fazer uma síntese dos seu tempo``, continua, admitindo a si semelhante tarefa.

Para cumpri-la, o autor se utiliza da imagem da máquina, que é destacada na significativa frase impressa na contracapa do livro: ``A fragilidade da vida solta na turbina da máquina``. É, pois, uma advertência, ao mesmo tempo que um resumo do que está dentro do volume. A ideia de permanência, embora onipresente, salta às páginas da segunda parte da obra, batizada de Termos, onde Rogerlando busca grafar ``as palavras mais irresistíveis``. ``Irresistíveis tanto no sentido de serem as mais bonitas como no de não conseguirem resistir ao tempo. Existe essa dubiedade``, esclarece o independenciense. Na seção, ele faz o papel de poeta que reflete sobre seu ofício e brinca, não sem um ar de seriedade, com a imortalidade, aspirada por escritores humildes e ostentada orgulhosamente por outros, principalmente os infames acadêmicos.

Da fragilidade, ele trata na primeira parte do volume. Aqui, assomam-se todos os demônios de uma vida. Os mesmos que chocaram seus conterrâneos (muito mais pela inclusão do simples nome Diabo do que por qualquer outra coisa), nos dias que sucederam a publicação do livro, e que, independente de preconceitos, atormentam todos os seres humanos por igual. A finitude é o principal. A morte, filha do tempo que a tudo come, aparece com todas suas faces naquela que Rogerlando reconhece como a seção mais complexa de Chão Inaugural. ``Mergulho no inferno da existência, usando metáforas para falar da minha dor``, explica.

Já no excerto final do livro, Engrenagens, o autor abre o foco de seus escritos para questões sociais, como, por exemplo, ecologia e ética, e volta para a crítica política. Como no poema Síndrome, em que ele discorre sobre a admiração insana que o povo nutre em relação àqueles que o exploram. A síndrome de que se fala, como não poderia deixar de ser, é a de Estocolmo. Em meio aos recentes escândalos políticos, ele aproveita para atacar o envolvimento do presidente Lula, o ``populista Lula``, para usar seus termos, com o governo autocrático da Venezuela. A hipocrisia ideológica que denuncia atinge até o secretário Auto Filho, bolivariano assumido que comanda a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), órgão responsável pelo edital que possibilitou a publicação da obra.

``Não sou nem um pouco de esquerda``, afirma, já beirando a redundância. De fato, o alvo maior desse setor, os Estados Unidos, não é senão uma fonte de inspiração para ele. O título do livro, por exemplo, veio de um poema que escreveu sobre Obama, mas que não entrou na obra. ``Ele (o título) se refere ao processo de eterno retorno da história. Estamos sempre voltando no tempo e os americanos fazem isso, com as referências à Primeira Emenda e aos fundadores``, diz.